14 junho 2009

nacionalismo, patriotismo, idiotismo

ando há uns tempos para escrever este post, mas a vontade de escrever sobre este assunto era baixa, muito baixa, no final da nossa digressão macedónia. um travor amargo tomou conta da minha escrita, e por isso decidi congelar a escrita deste post por uns tempos, até ser capaz de colocar um tom mais racional e equidistante sobre o tema.
e a razão pela qual a amargura tomou conta da minha escrita é simples: os últimos debates que organizamos, com a excepção do debate na belíssima cidade de kratovo, ficaram marcados por um tom negro de nacionalismo, exacerbado, populista e negativista, que cria muros e muralhas onde outros tentam construir pontes. é um tipo de discurso que não nasce de geração espontânea; é ruminado, lentamente, pela classe política, que o vai passando aos seus concidadãos por forma de discursos patrióticos, a bem da nação, pois claro, e se entranha no subconsciente da sociedade como uma larva, alimentando-se da tristeza e da pobreza de um povo sem saída e sem soluções. e se este tipo de pensamento fora usado aquando do colapso da antiga jugoslávia para justificar o injustificável (a independência de um país sem indústria e sem meios próprios para desenvolvimento) e foi usado por dezenas de políticos numa guerra mesquinha com os gregos (que, diga-se, também não ajudam) para granjearem popularidade e ganharem eleições, tem sido, nos últimos 3 anos, potenciado pelo governo de centro-direita para fazer o que bem lhe apetece independentemente das reais consequências dos seus actos, com o apoio de uma esmagadora maioria da população.

em nome da nação cometem-se absurdos, como as constantes provocações aos gregos, que exaltam o orgulho patriótico de um povo que não tem mais nada a que se agarrar. depois de dar nome de alexandre o grande ou o seu pai (cuja nacionalidade é disputada pelos dois países, como se tal pudesse ser sequer disputado numa altura em que nenhuma das nações existia...) a todas as obras públicas de grande visibilidade que o país tem (aeroporto, auto-estradas, estádios...) o governo decidiu mandar construir uma estátua de alexandre o grande com 25 metros de altura (fora o pedestal...) na praça mais bonita de skopje, e mesmo em frente a um dos poucos edifícios que sobreviveu ao terramoto de 1963. como se não fosse já mau o suficiente em termos arquitectónicos, em termos diplomáticos é mais um (apenas mais um, no meio de tantos) tiro no pé. por um lado, irrita os gregos um pouco mais; por outro, ajuda-os na sua tarefa de fazer com que a europa veja a macedónia como a má da fita.
como se tudo isto não bastasse, agora o governo quer lavar as mãos da questão da negociação com a grécia de um novo nome para o país, preferindo que seja o povo a dar a sua opinião. ainda não explicaram exactamente que hipóteses estarão a votos, e como irá o governo fazer campanha, mas é mais uma mostra da sua covardia política: em vez de assumir a responsabilidade, entrega-a aos cidadãos, não tendo por isso de arriscar uma rebelião popular e uma mais que certa derrota nas eleições. é a infeliz política que temos...

tudo isto para vos dizer que por fazermos uma campanha de diálogo com os parceiros europeus, e de abertura para com a grécia de forma a se encontrar uma solução de possibilite à macedónia continuar com a fundamental integração nas instituições internacionais, fomos tratados como inimigos da nação, anti-patriotas, fachada dos gregos, e mais uma série de coisas que não lembra ao diabo. a lavagem cerebral de duas gerações de políticos resultou em cheio! espero sinceramente que o país acorde deste sonho nacionalista antes que seja tarde demais...

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