03 junho 2009

imenso verde

A beleza do país é indescritível. Em todas as linhas do horizonte há montanhas. Agora na Primavera, o verde invade-nos a vida. É impossível ficar indiferente. Sente-se nas veias. No Inverno fica tudo cheio de neve. Algumas regiões mais baixas ficam de tal maneira cobertas que precisamos olhar fixamente para perceber que estão ali casas e ruas e carros. Quando surgem os primeiros raios de sol após um nevão vêm-se, em todas as direcções, montanhas que parecem fantasmas a apontar para o céu. É bonito. E, porque à excepção de Ohrid, a Macedónia não é um país de turismo, fiquei com a sensação que tudo está tão virgem e intocável como no tempo do Alexandre, o Grande. Se decidirem visitar não esperem algo fantástico. Não é um país de massas. É um país para ser aproveitado como um bom vinho: não é perceptível a totalidade do conteúdo mas sabe bem e deixa memórias. Dá prazer!

este texto foi escrito pela sónia, uma encantadora alfacinha que até há bem pouco tempo me fazia companhia em skopje. poucos dias antes de partir de regresso ao nosso jardim deixou estas palavras tão lindas quanto verdadeiras no seu blog (que podem encontrar aqui). ao ler este texto pensava para comigo "que grande porra, eu só escrevo mal do país que, goste ou não, me acolhe; ora toca a escrever qualquer coisa positiva". e nada melhor do que a descoberta de uma pequena pérola para me incentivar a tal: segunda-feira estivemos em kratovo, uma encantadora miniatura de cidade encrustrada no fundo de um vale e rodeada do mais intenso verde que possam imaginar.

antes de sair de skopje não tinha qualquer ideia sobre o que iria encontrar. as únicas referências que me haviam dado era que as estradas eram más. infelizmente, essa é uma realidade não apenas para kratovo, portanto nem estranhei. a entrada na cidade é feita através de um vale, uma estreita passagem entre duas altas montanhas, onde somos absorvidos por completo por um verde absolutamente irresistível. ao longo da estrada acompanha-nos um pequeno ribeiro (que corta a cidade em dois); um percurso que começa a preparar-nos para o que aí vem. depois de se atravessar uma ponte (com ar demasiado moderno e austero, totalmente desenquadrada do resto) deparamo-nos com uma cascata de casas, unida à montanha do outro lado do vale por pontes antiquíssimas, e entrecortada por torres de aspecto medieval.

por momentos fica-se com a sensação de se ter viajado no tempo. infelizmente não é esse o caso, já que vários edíficios com matriz moderna estragam um cenário otherwise idílico, particularmente numa país como a macedónia, onde pouca ou nenhuma atenção se dá ao antigo. no final dos debates tive tempo para dar uma volta pela cidade, ainda para mais com direito a guia: paul, um voluntário americano do peace corps, que me foi contando algumas estórias fantásticas (e outras nem tanto) sobre a história da cidade e sobre os projectos (que podem encontrar aqui) que, juntamente com algumas ong's locais, têm procurado desenvolver (esbarrando sempre na casmurrice do poder local...). contou-me ele que mustafa, que trabalha para uma dessas ong's, é neto de um dos cidadãos de kratovo que foi poupado da morte durante a II guerra mundial. aquando da ocupação nazi, os alemães colocaram todos os homens em idade de combate numa pequena praça em frente a um tanque, de forma a eliminar qualquer intuito de resistência; a sua salvação foi uma alemã casada com um residente da cidade, que implorou junto dos oficiais que não concretizassem o acto, já que eles não levantariam qualquer problema à ocupação nazi. os oficiais acabaram por ceder, e assim se poupou a vida a umas dezenas de pessoas, incluindo o avô de mustafa.

são vários os pontos de interesse de kratovo: igrejas com 200 anos, pontes medievais intocadas, uma prisão turca do séc. XVII, trilhos nas montanhas, fontes termais... a lista é longa e interessante. os projectos do peace corps, a serem concretizados (nem que seja parcialmente) irão dar um incremento necessário à economia local, carente de novas iniciativas, através da atracção de turistas estrangeiros, sedentos de pequenos paraísos com estórias encantadoras para contar. incrivelmente, a cidade poderia ser ainda mais interessante, não fosse o milionário local ter conseguido a demolição de dois edíficios com mais de 500 anos (um deles uma mesquita, para indignação da comunidade albanesa, cujos protestos caíram em saco roto, já que o dinheiro viaja livremente de bolso em bolso...) para construir um hotel e um centro comercial...

apesar disto, motivos para visitar kratovo não faltam. o que me falta são palavras para descrever o que senti quando lá cheguei. terá seguramente ajudado o facto de ter semelhanças com algumas das nossas antigas localidades, e até mesmo com penafiel, com a qual partilha o facto de se situar numa colina e por isso sermos lançados num carrossel, rua acima rua abaixo. mas seja por que motivos for, apaixonei-me por kratovo, e seguramente voltarei. talvez no final do verão, quando o verde der lugar a uma nova paleta de cores. até lá, fico-me por estas fotos. quem tiver curiosidade em ver mais, eu abri um álbum para as minhas fotos de kratovo no photobucket. quem sabe um dia não nos veremos por lá? :)

2 comentários:

  1. Além de estares a escrever lindamente com descrições absolutamente fantásticas revelas que tens muito bom gosto literário ao citares a Pessoana mais linda e inteligente que já existiu à face da terra(OFÉLIA QUEIRÓZ)já sabemos que ela um dia será uma escritora best seller, e tú sinceramente estás a seguir-lhe os passos.(PARABÉNS) estás com uma escrita fabulosa e interessante com uma descrição magnifica.Ser português é isto!ter um coração grande onde cabe muito mais do que possamos imaginar,boa sorte muito boa sorte é o que te desejo PORTUGUÊS na MACEDÓNIA

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  2. Peço encarecidamente desculpa pelo coméntario anterior,houve um engano laméntavel na identificação do autor do mesmo sendo que é de autoria de o seguinte e não de ofelia queiroz como surgiu por acidente.DESCULPA AO AUTOR DO BLOG E À PRÓPRIA OFÉLIA.

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