Pouco antes de vir para a Macedónia pela primeira vez encontrei-me com um Português que havia estado cá alguns meses antes e que me deu algumas dicas sobre o país e as suas gentes. E uma das coisas mais acertadas que ele me disse foi que a Macedónia era um país com uma vincada cultura de café e tabaco. Isto é algo que mesmo um turista acabado de chegar ao país constata facilmente: os cafés estão constantemente cheios e a maior parte das pessoas que os enchem são fumadores. Enquanto que o café é uma herança dos 500 anos de ocupação otomana, já o tabaco tem raízes mais profundas, visto que é uma das principais produções nacionais. É tão importante que está mesmo presente no escudo nacional. Posto isto, e tendo em conta que o país tinha já uma lei que obrigava todos os espaços públicos a terem áreas específicas para fumadores e não-fumadores, foi com alguma surpresa que se assistiu à homolgação de uma nova lei que bane por completo a possibilidade de se fumar num espaço público fechado.
Naturalmente, os donos de restaurantes e cafés manifestaram-se contra a lei, alegando que muitas pessoas deixarão de ir ao café com a mesma regularidade se não puder fumar. As manifestações destes empresários não foram muito agressivas mas as suas críticas não cairam bem ao Governo e à Câmara de Skopje, que de imediato retaliaram. A maior parte dos cafés do centro de Skopje aproveitaram os passeios (em zonas pedonais, portanto, bastante alargados) para montarem as suas esplanadas, mas fizeram-no sem a devida autorização das autoridades, embora com a sua conivência. A troco de assobiarem para o lado, os políticos esperavam silêncio e obediência (uma prática comum na política cá do burgo). Curiosa coincidência, quando os donos destes cafés levantaram a voz contra a nova lei do tabaco, a Câmara de Skopje decidiu avançar para a remoção dos espaços das esplanadas de Skopje.
A esplanada do Café del Fufo, na praça central de Skopje
Não coloco em causa a justeza da decisão da Câmara; os donos destes cafés retiravam lucro de um espaço público sem nada pagarem em troca. Peca, apenas, por tardia. O que me aborrece, naturalmente, são estes jogos sujos e politiquices baratas, da lógica de uma mão lava a outra e o contribuinte que se lixe. Mais: a Câmara avançou para a remoção destes espaços sem aviso prévio e sem dar a possibilidade aos proprietários de chegarem a acordo para a utilização dos mesmo com a Câmara, como manda a lei. Com o tempo que levo por cá este tipo de coisas já não me espanta, já sei bem o que a casa gasta, mas enerva-me ver o país nas mãos de pessoas sem escrúpulos, que olham para todas as situações apenas do ponto de vista do benefício pessoal e que vão, dia após dia, enterrando o país um pouco mais na lamice dos jogos de poder que são, no fundo, a única coisa que estes políticos sabem fazer.