24 outubro 2009

Portugal dos pequenitos

Estar longe de casa dá-nos a possibilidade de olharmos para o nosso ambiente natal de uma forma diferente, e leva-nos a apreciar coisas que antes nos passavam despercebidas. Estando longe de Portugal, aprendi a apreciar pequenos pormenores, deliciosos, que antes, por serem rotina, me passavam ao lado. Aprende-se a apreciar de forma diferente coisas grandes e pequenas; a distância torna-nos eternos enamorados daquilo que não podemos ter. Dito por outras palavras: a distância enamorou-me de Portugal.
Infelizmente todos os amores têm momentos de dúvida e angústia, e este não é excepção. O último par de semanas trouxe ao de cima algumas das coisas de que menos gosto no nosso país, aquilo a que chamo Portugal dos pequenitos, um país mesquinho, sombrio, da crítica (ou pior, do insulto) fácil, que ainda não saiu das grutas onde Viriato refugiava o seu povo dos invasores Romanos. É o país onde uma pessoa não pode ter uma opinião contrária, onde o debate se faz com paredes, onde somos ostracizados por pensar de forma diferente. É um país preso à mentalidade que o reinou durante séculos, fosse nos tempos das monarquias absolutistas ou das ditaduras fascistas.
Vem isto a propósito, está o leitor a adivinhar, da polémica em volta das declarações de Saramago sobre a Bíblia. Não escrevo isto por achar que ele está coberto de razão (apesar de achar que tem muita razão naquilo que disse) mas por achar que o ataque que lhe foi dirigido foi seco, brutal e sem o mínimo de respeito; respeito que era, curiosamente, o que os seus opositores lhe exigiam sobre a intocável - em Portugal se não é pelo menos parece - instituição que é a Igreja Católica. Este ataque foi de tal forma cego que muitas pessoas enxovalharam o novo romance do escritor sem sequer lhe pôr os olhos em cima, e muitas outras, incluindo, imagine-se, um eurodeputado!, exigiram (como se isso lhes competisse) que o escritor cumprisse a ameaça de renunciar à nacionalidade portuguesa. Depois do que o Estado Português lhe fez em 1991 admiro-o por ainda cá pôr os pés e dar alguma importância a um país e sociedade que o tratam desta forma.
Ao ler o rol de alarvidades que se escreve hoje em dia em resposta a Saramago, não consigo deixar de esboçar um sorriso ao lembrar-me de um certo inquisidor humorístico...
O artista é um bom artista; não havia nexexidade. Vamos lá a continuar, mas com juizínho...
Eles andam aí, os Diáconos Remédios...

6 comentários:

  1. Se ele tivesse falado do Alcorão, a história seria muito diferente.
    Que fazer? É o país que temos! Ou será os crentes que temos? ;)

    Beijo de far far away*

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  2. Desculpa lá, quem faltou ao respeito foi esse senhor, e não foi à Igreja Católica, mas simplesmente a todos aqueles que acreditam na Bíblia e que a entendem como um livro de excelentes costumes, que se fossem colocados em prática, poderiam mudar a face do Mundo... Mas enfim, esse senhor nem vale a minha indignação!

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  3. Ó André,não diria que concordo contigo em absoluto mas quase,(em minha opinião Deus não é o que se tem comentado por aí),para mim ele é...(faz o bem sem olhar a quem,é tolerância aceitação e amor),nada disto temos lido por esses comentários fora,o que senti foi ódio,inveja porque o sr. é prémio Nóbel e porque se dá ao luxo de dizer o que pensa é apedrejado,em minha opinião nada disso combina com a religião católica,é do género gosto de ti e tolero-te mas tens que me agradar e pensar como eu,senão vai dar uma volta:isso não me parece coadunar-se com os anseios do nosso povo;por isso estou confusa...será que gostaríamos novamente de ter quem nos dominasse e pensa-se por nós???Olha é duro viver longe de Portugal,mas toda a gente devia passar por essa experiência para conhecer outras realidades e dar mais valor ao que tem:uma vez em conversa com uma sra.idosa que respirava sabedoria por todos os poros disse-me ela(sabe minha sra?é muito bom conhecer lugares;quem nasce engorda e morre sem sair do mesmo sítio,(são os porcos).nunca mais esqueci esta frase e penso nela mais vezes do que gostaria!!!Desculpa a seca:)(:Mãe da Sónia:)

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  4. Brandus, não concordo. Ele deu a sua opinião, bem fundamentada (concorde-se ou não) e não disse nada que fosse ofensivo. Na volta, foi atacado por simplesmente ter a sua própria opinião e pensar pela sua cabeça.

    Adelina, concordo plenamente. Muitos dos que atacaram Saramago nunca leram sequer a Bíblia e não fazem ideia sequer do que lá está escrito... Quanto a viajar e sair do nosso meio ambiente é sem dúvida algo que nos permite abrir horizontes e ter uma perspectiva diferente não apenas sobre o nosso meio (aqui falo mais nisso por causa do tema em questão) mas, na verdade, sobre tudo. E não é seca nenhuma, pelo contrário, apareça mais vezes!

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  5. Estranho seria se não originasse esta polémica exagerada. Sempre que Saramago expressa opiniões acerca desta temática surge uma multidão capaz de se insurgir contra o Escritor, manifestando insatisfações perante diferentes formas de pensar e sentir. Compreendo a revolta perante a frieza das palavras de Saramago, mas esta frontalidade faz parte da sua essência. Julgo que temos que ser tolerantes com opiniões diferentes. Esta situação sublinha ódios antigos da Igreja Católica, alimentados pela comunicação social, que se revelam excelentes para publicitar o livro, à semelhança daquilo que aconteceu noutras ocasiões. Admito que o meu interesse pela obra e pela pessoa foi motivado por polémicas de outrora, pelo que parece-me óbvio que a controvérsia actual possa fomentar a curiosidade de outros leitores...
    Abraço

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  6. Boa noite Andre,

    O meu nome é Patrícia Maia, sou jornalista e estou a escrever um artigo sobre a Macedónia para uma nova revista de política que vai sair em Dezembro. Gostaria de trocar consigo algumas impressões sobre a sua experiência no país e fazer-lhe uma breve entrevista se tiver disponibilidade. Aguardo a sua resposta para patricia.maia.politika@gmail.com. Obrigada! Patrícia

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