23 agosto 2009

uma relação de amor-ódio

se, há 3 anos atrás, alguém me dissesse que eu ainda estaria na macedónia por esta altura, eu diria que essa pessoa estava louca. tinha uma enorme curiosidade em relação a esta zona da europa, e estava entusiasmadíssimo quando cá cheguei, mas não me passava pela cabeça cá ficar. lembro-me perfeitamente desse primeiro dia, da chegada a um aeroporto incompleto (sem hall de espera...), dos aviões militares estacionados ao longo da pista (quase que se sente termos chegado a uma zona de guerra), da primeira palavra que vi escrita em macedónio, com números no meio (a palavra era излез, saída, e o que parece ser um 3 é na verdade o z do alfabeto cirílico), das muitas árvores plantadas por todo o lado... admirável mundo novo era a macedónia, nesse dia, para mim.
passados 3 anos, tenho dificuldade em fazer um balanço. gosto da macedónia como país de passeio, mas com pequenas pérolas que se descobrem aos poucos, aqui e ali, escondidas como tesouros do tempo de alexandre o grande. já como país para viver tenho mais dificuldades em gostar desta salgalhada, em que ninguém se entende e ninguém parece querer fazer-se entender. gosto dos macedónios como pessoas acolhedoras, de coração aberto, que gostam de partilhar uma boa mesa e boas estórias. já como trabalhadores, tenho dificuldades em aceitar que não gostem sequer de cumprir as obrigações mais básicas dos seus próprios empregos, especialmente aqueles que ocupam lugares na administração pública, e que o laxismo e o "deixa-andarismo" sejam imagens de marca do país. admiro o potencial do país, totalmente inexplorado, em tantas áreas, e tão diferentes, como o turismo ou a energia, que, bem desenvolvidas, tanto poderiam fazer para melhorar o futuro do país; tenho dificuldades em aceitar que ninguém esteja interessado em desenvolver esse potencial, especialmente os políticos, que maior obrigações têm nesse campo, preferindo ocupar-se com um passado distante (demasiado distante) para ser visto sequer como o antecessor desta macedónia, e que em nada pode contribuir para melhorar a vida destes macedónios.
no fundo, é uma relação de amor-ódio a que me liga a este país. sou uma pessoa muito diferente daquela que aterrou em skopje pela primeira vez há 3 anos, e acho (espero) que para melhor. curiosamente, skopje mudou a minha vida de um forma que nunca esperaria: se por um lado encontrei uma mulher extraordinária que me roubou o coração, por outro consegui, finalmente, um emprego na minha área de formação, algo que seria dificílimo de fazer em portugal. como posso eu dizer mal de um país que marca tão profundamente a minha vida pessoal e profissional?...

1 comentário:

  1. Mas não ias falar da Macedónia? é que esse retrato é de Portugal :)

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